6 de abril de 2011

Segredo

Escondo-te o meu segredo
Nestas palavras desajeitadas,
Desconfio que desconfias,
Mas a verdade é que não sabes de nada.
Não te conto, nem te suplico
Porque não sabes nada de mim.
Se soubesses o que sei,
Acredita que as coisas não seriam assim.
Não me reconheço, nem me desejo
Neste comportamento bizarro,
Penso em ti todos os dias,
Nas noites que nunca acabam.
A verdade é que já nem durmo,
E assusto-me por reconhecer o que estou a sentir.
Para ti não será nada de especial,
Mas é tudo para mim.
Num momento oportuno
Olharei para ti,
Apreciarei a tua forma,
Teu jeito envergonhado,

A simplicidade que há em ti.
Quero sentir o teu corpo,
A suavidade do teu cabelo.
Quero dizer-te tudo,
Quero deixar de ser formal
E contar-te na tua boca
Este meu segredo carnal.



por Fábio Martins

21 de março de 2011

Divina Confiança

Não sou muito crente no divino, mas acredito no valor que damos às coisas ou às pessoas e que isso poderá torna-las divinas, na medida certa e na razão entre a sua palavra, respeito e acção para connosco. Neste sentido, a ligação que se estabelece entre duas pessoas nada mais é que uma troca recíproca de acções, esboçadas em simples palavras ou gestos, que delimitarão o seu valor na nossa vida. Ainda que aceite que a complexidade deste fenómeno seja difícil de se resumir em apenas uma linha, acredito que uma palavra chega para explicar a seu principal problema, que curiosamente é a mesma para a sua solução: “Confiança”.

A confiança é um acto de fé, por isso não deve apoderar-se da complexidade do nosso pensamento mas antes servir-se da lógica simples do nosso coração. Ela é o ponto de equilíbrio que define o nosso bem ou mal estar para com outra pessoa. Ela pende para a infelicidade quando não te sentes capaz de usá-la, pende para a felicidade quando já nem tens que pensar nela e simplesmente disfrutas da plenitude da tua curta vida.

Aprender a confiar é nada mais que aprender a estar, a ser e a crescer com outra pessoa. Não nos devemos render à preguiça constante de não o fazer, por mais difícil que seja de assim o ser. Não sejamos egoístas! Do outro lado poderá estar a pessoa que mais nos quer, que mais nos compreende e que mais nos confia. Porquê à partida desconfiar? Quando amamos, apaixonamo-nos ou simplesmente gostamos…devemos resumir esse sentimento ao seu conteúdo essencial: o prazer de estarmos juntos. E é esse sentimento de prazer constante aliado ao estado de confiança da nossa alma para com o outro, que torna a nossa ligação tão divina.

É claro que, como em tudo na vida…erros acontecem, memórias se esquecem e palavras se esgotam. Como tal, a confiança entre duas pessoas poderá momentaneamente ser quebrada por uma ou outra acção, de forma consciente, inconsciente ou mal interpretada. No entanto, até lá confia, confia piamente que a sorte poderá estar à tua frente e olha que não aparece a muita gente. E se não foi desta que a sorte te bateu à porta, tens sempre uma porta ao lado...

O que interessa é que se viva a vida com a tranquilidade gerada pela nossa confiança, que aprendamos a usá-la como instrumento essencial à nossa felicidade e à dos outros. Se sabes viver bem e feliz sem isso, os meus parabéns! Eu simplesmente não consigo.

escrito por Fábio Martins

19 de março de 2011

Segundo e meio e quase um beijo


Entro naquela máquina do tempo, aquela que aparentemente gostas de ouvir. Sem nada temer mas tudo desejar, rastreio cada vazio por entre as dezenas de pessoas que desfrutam do seu tempo, mas sem nada encontrar. A nuvem de vazio condensasse em mim esperando por aquele momento, aquele momento em que a chuva cai sobre ti e a tempestade se gera em mim. E eis que então o tempo pára por segundo e meio, aquele infinitesimal intervalo de tempo em que minha íris cruza-se com a tua, um tornado de pensamentos irracionais e uma trovoada de emoções se gera e se personifica em cada gota que cai sobre ti. Um arco-íris se eleva e imediatamente se esconde de vergonha quando se depara com a tua perfeita imensurável beleza, que contagia o espaço e o tempo, que se equipara à plenitude dos céus, aos mistérios do oceano e à dimensão deste universo que nunca se esgota.      

Aprecio aquele teu gesto tímido em que tocas no teu sedoso cabelo e por momentos finges não olhar. Tentas evitar a inevitável estória que eu e tu estamos prestes a escrever naquele livro que mais ninguém pode ler… E eis então que ganho aquela coragem que raramente a minha timidez me deixa alcançar, forçado por aqueles teus olhos que não param de me olhar, que chamam e gritam silenciosamente por mim. Dirijo-me a ti contrariando todos os meus impulsos cerebrais, que nada servem quando meu corpo é impulsionado pelo meu coração, e sinto que ficas tão ou mais nervosa quanto eu, mas que adoras sentir-te assim. Chego ao pé de ti e não te digo absolutamente nada pois aquela conversa era já longa demais. Olho-te com confiança e correspondo aquele pequeno maravilhoso sorriso que só tu sabes fazer, entre aquele batôn discreto e sensual que completa na perfeição a cor rosada com que ficas quando estás ao pé de mim. Agarro a tua mão pelas pontas dos teus dedos macios, da maneira discreta mas suficientemente forte para o teu corpo notar pela presença do meu. Sinto aquele arrepio frio que me degenera e me conforta em todas as palavras que os nossos corpos recitam em poesia e que eu aqui escrevo em prosa. 

Liga-se a música, o espaço pára, os corpos congelam e o tempo é infinitamente nosso. A melodia toca-se em nós sem saber o seu nome e a sua origem, mas chega-nos saber que é perfeita para aquele momento. Minha mão ganha vida e explora a geometria perfeita das curvas do teu corpo, sem nunca se faltar ao respeito, pois a tentação da sensualidade que exibes não se esgota em si mesma. Ela encontra o ponto perfeito da tua cintura e pede-te permissão para dançar…Tuas mãos correspondem timidamente dirigindo-se para meus ombros agarrando-se em mim e fechando aquele capítulo perfeito que nossos corpos escreveram.

Iniciamos um novo soneto que se inspira na forma graciosa como nos balanceamos no espaço, despreocupados mas ansiosos pelo verso seguinte. Sussurro-te ao ouvido palavras desajeitas e ridículas mas que adoras, ao qual correspondes com uma explosão de arrepios que se deixam sentir como a serena perfeição do teu perfume. Encosto minha cabeça na tua e respiramos os dois bem fundo, certos que estamos preparados e ansiosos por ler aquele verso seguinte, que deverá ser recitado de forma quase perfeita. O beijo é quase certo e vem a caminho, fechamos então os olhos e tudo se esquece, tudo se sente, o mundo dá voltas sem parar e o universo resume-se naquele momento.

Abro os olhos e aquele segundo e meio acaba-se. Tu passas por mim e quase que nem te dás conta, ainda que desconfie que olhaste de maneira diferente para mim. Eu passo e fingo ser indiferente para ti. Afinal a timidez e razão continuam a falar comigo todos os dias e não foi desta que deixei de escrever estórias de prosa em forma poesia. Mas sei contudo que estás presa algures no meu tempo, que este tempo é efémero e que poderei voltar ao teu tempo, mas o meu tempo não espera, tu também não páras e nem sei se queres mesmo parar este tempo. 

Sei que não posso, sei que não devo, sei que quero, não compreendo e tu fazes de conta que não compreendes, mas estou certo que se compreendesse nada seria o mesmo, o tempo seria outro e esta estória seria diferente.

escrito por Fábio Martins
18 de Março de 2010


*image copyrights from Kellie Kano http://kelliekanophotography.com/

2 de janeiro de 2011

Sinceridade

Sinceramente, quão rara é a sinceridade? Pergunto-me muitas vezes se ele é sincero, se ela é sincera, se eu sou sincero ou mesmo se alguém é verdadeiramente sincero.
O homem, ser bajulador, procura de maneira mais ou menos consciente, o proveito e o prazer em benefício próprio. Arriscava-me a dizer que toda a acção, seja ela bem ou mal intencionada, planeada com a nossa cabeça ou impulsionada pelo nosso coração, é sempre feita na procura da paz interior e gratificação pessoal. No fundo somos uns egoístas por natureza e o que nos diferencia é se o nosso bem-estar reside no prazer físico-emocional dos outros, de nós mesmos ou num equilíbrio perfeito de ambas as partes. Isto leva-me a pensar que somos particularmente sensíveis ao elogio e mimados quanto á critica. Não aceitamos de maneira fácil a sinceridade do próximo, fugimos muitas vezes às suas palavras e temos dificuldade em aceitar a sincera verdade.
O homem sincero é visto como um caçador de orgulho, aquele que mata e fere esse nosso mal tão estimado. As pessoas falam bem dele, apaixonam-se e desejam-no pela sua raridade mas preferem sempre ficar fora da sua mira. É demasiado difícil ser um alvo da sinceridade. Por isso esta é escorraçada e largada ao abandono, é um cão lindíssimo, de raça pura mas vadio, que deambula alternadamente pelas ruas do paraíso e do inferno. Praticamos a cultura da inverdade, porque esta é de aceitação e doação fácil. E na verdade escolhemos e fazemos amigos para que estes nos agradem e medimo-los na quantidade e na qualidade da sua complacência para connosco. Por isso, não é fácil ser sincero. Não é fácil ser diferente, disparar e lutar contra a mentira quando esta nos oferece “conforto”, “segurança”, “amigos”, “paixões”, “prazer” fácil e uma "felicidade" ilimitada. A sinceridade é um doce amargo, de uma raridade e pureza inimaginável e não admira que assim o seja. Ela é idolatrada mas perseguida, é livre no destino mas refém no pensamento, é humilde mas espalha humilhação, destrói mas ajuda a reconstruir, é feliz mas vive no meio da infelicidade...
E para ser sincero, a verdade é que nem sempre sou sincero. Não estaria a ser sincero se dissesse o contrário. Não é fácil! Mas tento e procuro incondicionalmente o valor da sinceridade em ti, em mim e escrevo-a neste papel e no meu pensamento para que me lembre todos os dias em partilha-la contigo. Pois certamente é a sinceridade que une aquilo que nos afasta e a grandeza de tudo o que nos resume.

escrito por Fábio Martins

1 de janeiro de 2011

Bem-vindos

Confesso que esta ideia de fazer um blog, nunca foi muito meu intuito, ainda que escreva de forma algo regular, na privacidade do meu quarto e no conforto da minha secretária, esses textos geralmente ficam no labirinto da minha mente e fisicamente instalados no meu baú de recordações. Não me acho de forma alguma uma pessoa com dom da escrita, que mereça algum tipo de destaque, ainda que considere que tenho uma maneira de escrever particularmente intensa no registo emocional. 
A verdade é que recentemente, excepcionalmente, publiquei um dos meus textos que gerou alguma surpresa por parte de amigos e conhecidos, mais do que eu poderia esperar. Alguns deles (o meu muito obrigado a esses) incentivaram-me a que escrevesse e partilhasse mais aquilo que me vai na alma. Pois bem, pensei bem e achei que este dia 1 de Janeiro de 2011, seria a altura ideal para iniciar este novo projecto. :-)
Este será um espaço de partilha de textos, opiniões e algumas fotografias de minha autoria. O nome desde blog, "Passado num Futuro", nada mais é que o nome do texto que impulsionou toda esta ideia. Abaixo encontra-se esse texto, que a maioria de vós já deverá conhecer...pelo menos aqueles que me acompanham na rede social "Facebook".

Espero que gostem e que acompanhem daqui para a frente. Se tiverem também um blog agradeço que façam referência ao mesmo para que possa acompanhar-vos. Acreditem que o farei com muita frequência. :-) 
Aproveito para vos desejar um excelente 2011, que eu possa contribuir de alguma maneira para a vossa felicidade e sucesso! 


Passado no Futuro


5:00h da madrugada de um passado distante e de um futuro próximo, espero. Levanto-me, ligo o candeeiro e sento-me à secretária. Fervem-me pensamentos, palavras e emoções que tentam escapar-se desordenadamente pela tinta desta caneta. Não os consigo conter, tenho esta estranha necessidade de os escrever enquanto dormes atrás de mim, entre um mar de lençóis brancos, no quente dos teus sonhos, protegidos pelo labirinto de cabelos emaranhados que não quererás ver quando acordares. Mas estás linda, na magia que se enrola em tua volta, no delicado traço do teu corpo e no leve sentir do teu sorriso. Que sonho será esse o teu? Que sonho é este o meu? Sonho. Moveu-me e fez-me acreditar no possível e no impossível. Foi culpado por tudo aquilo que me fez lutar. Foi o meu advogado de acusação e de defesa quando fui julgado por momentos de glória e de desgraça, por este júri benevolentemente implacável que é a vida. Mas é por ele que te tive ao meu lado, que sentia o que escrevia e que escrevia aquilo que sentia. Cumplicidade. Redundante forma de aproximação, insuspeita e discreta, por onde o nosso futuro começou a desenhar as formas e texturas da colorida harmonia da nossa atracção. Foi com ela que explorei cada centímetro do teu complexo pensamento nas respostas simbióticas ao meu constante pulso emocional, onde sorrisos e olhares desvendavam sorrateiramente aquilo que as palavras inicialmente não diziam. Medo. Uma constante que tornou inconstante o meu pensamento, um sentimento que criou o estado incerto e por vezes ridículo, em que me revia em alguns momentos passados contigo. Que parvoíce! Afinal, percebi que por medo já tinha perdido muito daquilo que tinha medo de perder. Mas continuaria a ser um paradigma constante, que alimentou a certeza de que devia aproveitar cada segundo a teu lado com a intensidade, carinho e afecto que só tu mereces. Desejo. Tu! Eu e tu! Nós! Na noite em que o céu das estrelas se alinharam em mim e em ti e a lua sorriu luz em quarto-crescente, no reflexo daquelas ondas que cantavam á nossa frente, enquanto os meus olhos admiram os teus e me apercebo que aquele desejo aconteceu. Que beijo doce o teu! Paixão. Manifestou-se fisicamente pelo beijo sincero. Foi um mar turbulento de sentimentos e emoções codificadas no qual exponencialmente se assentaram os nossos problemas e onda na maioria das vezes se encontravam as soluções. Sem justificação aparente, de uma maneira quase inconsciente sabemos que ela é a raiz da nossa existência. Arriscamo-nos e rezamos por ela, como se de um Deus tratasse, onde encontramos a fé, a força em nós mesmos e as respostas para coisas que nem têm resposta. Respeito. Desejo mútuo sempre presente em nós. Suor que escorreu pelo meu corpo e o teu, suspiro que saiu nas minhas e nas tuas palavras e que gerou confiança e fidelidade em todos os momentos passados e futuros, em todas as coisas boas e más que partilhamos. Ódio. Que também incontornavelmente teve que existir, na medida e dose correcta, no momento sempre irremediavelmente inapropriado. Senti-o e sei que sentiste algumas vezes, por desavenças e conflitos que a razão conhece melhor que nós mesmos mas que respeitámos mutuamente. Sabíamos que a nossa imperfeição tornava-nos mais perfeitos, essa foi sempre a nossa natureza… e que muitas vezes as nossas emoções eram como um rio que cresce no seu caminho até ao atribulado oceano, em que se cruzam de maneira pouco pacífica, mas por onde os barcos equilibrados continuariam a navegar sem se afundar, seguindo o seu caminho. Equilíbrio. Chave do sucesso, pilar central nesta relação que já acabou e que ainda vai começar. Centro de referência do universo de coisas boas e más que nos rodeiam todos os dias, dos sucessos e fracassos, da paixão e do ódio, na confiança e desconfiança, do respeito e da falta dele, da ousadia e da timidez, do prazer e do desejo. Saudade. Pureza extrema presente em mim quando penso em ti. Sabes bem, demasiado bem que o que te escrevo aqui não passa disso mesmo, saudade de ti, daqueles momentos passados no futuro, que nada mais se resumem a momentos de um sentimento constante no presente. E quero-te a ti aqui. Mas afinal estás aqui atrás de mim. Por isso pouso a caneta sobre este passado rasurado, futuro por escrever. Revejo-me em cada letra, vejo-te em cada palavra em que nos concretizamos e agora sim, posso dormir descansado…ao teu lado. 

escrito por Fábio Martins